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.:terça-feira, novembro 21, 2006:.

Cada palavra que proferimos deve diminuir a ignorância e aumentar o mistério.

Os tempos que vivemos transportam no seu útero as sementes da Mudança, esse terrível ídolo da raça da juventude, que procura em todo em cada lugar dar esperança nova a acções ainda presentes; dizemos: o futuro encerra as nossas necessidades mais queridas, mas o presente contém os traços nus daqueles que, por vezes com graciosidade torturada, construíram o nosso mundo, marcando-o com bravos feitos.

Mas agora - chegaram e partiram, e o que fizeram enevoa-se perante os nossos olhos; e quando desaparecer, cantá-lo-emos - a nossa Idade Dourada, esquecendo que cada idade é feita do jade mais puro, enquanto o Tempo, esse Eiron dos corações dos homens, nos sorrirá e voltará outra página.

As coisas que fazem parte das nossas memórias do passado eram tão vulgares e pouco atraentes na altura em que foram registadas que eram verdadeiramente imemoráveis. No entanto, as coisas que imaginávamos espantosas e para sempre gravadas na nossa memória são apenas recordadas na forma de manchas vagas, ilusões, misturas e fracções. Reconhecemos aqui um problema: só sabemos o que é significante quando a sua significância e imanência têm o único objectivo de nos assombrar.

É só quando se tem para onde ir, que se torna manifestamente importante saber-se precisamente onde se está. O verdadeiro início de uma viagem dá-se muito antes do acto físico da partida.

Todos interpretamos o novo em função do velho, e sentimo-nos assim confortados ou aterrorizados, conforme o caso. Mas o erro de que somos vítimas não provém tanto da má identificação, como do tipo de escala.
Uma pessoa pode identificar correctamente na essência, dizer, por exemplo, que um objecto é uma montanha, e, no entanto, ter uma escala tão errada que a identidade tem de ser questionada. É verdade que uma pequena ondulação é de facto uma onda; mas as pequenas não têm importância, excepto para o vidente, as médias são uma espécie de beleza e as grandes um enorme perigo.

O sábio conhece mais de 4 estações; o louco diz que as 4 de que fala o seu calendário não têm importância.

Os processos têm usos; é também importante perceber que a fascinação por um processo pode aumentar, não havendo qualquer meio automático para a controlar, até que o assombro obscurece os resultados pretendidos com o procedimento original. É esta a faceta mais fácil de observar nos outros e a mais difícil de descobrir e travar em nós próprios.

O professor instrói o aluno; tal como o mestre educa o novato. A medida final da instrução e da educação obtêm-se analizando o que o instrutor aprendeu com o estudante. Pode-se ainda afirmar que quanto maior é o distanciamento da relação entre os 2 mais aparente isto se torna: o melhor professor de uma criança muito pequena é o que realmente aprende mais com a criança no processo de instrução.

Doutrina dos Opostos (excerto):
Para o novato, as razões para a mudança, as verdadeiras razões e não as ilusórias, e a direcção dos acontecimentos num dado sistema são desconhecidas, paradoxais e tão multifacetadas que não podem enumerar-se. Além disso, o curso seguido pelos acontecimentos é quase sempre exactamente o contrário daquilo que o principiante espera. Assim, observamos os seguintes fenómenos: 1) que a quantidade de esforço administrativo aumenta à medida que a função morre; e 2) que a severidade do treino militar aumenta à medida que a possibilidade de guerra se torna mais remota. Segue-se que o primeiro nível dos adeptos será ver para além da ilusão, gerada por fracas aproximações da teoria; o segundo, é aprender a conduzir-se como se não vissem estas contradições e, por outro lado, estar sempre a deslindá-las, para que os outros, que não se apercebem tão bem das coisas, não sejam apanhados na rede.

A civilização é uma coisa que o homem não quer realmente; é também uma coisa para a qual não demonstra ter condições nítidas. Assim, passando pelas explorações mais simples e inocentes, chegamos a essas questões perturbadoras e terríveis que parecem sempre começar com «porquê».

O único aspecto constante da mudança é a variação do seu ritmo. Há jogos simples e complexos, mas os únicos que vale a pena jogar são os múltiplos, nos quais todos os parâmetros estão num estado constante de fluxo e mudança. O aparecimento da qualidade acaso é frequentemente a indicação mais segura de elevados e subtis sistemas de ordem.

Evitar a responsabilidade de um estudo completo do início de um grande plano garante que alguém terá culpa pelo falhanço inevitável.

Tudo o que sempre fizeste foi um treino para o momento seguinte. Tanto podes esperar tudo como nada, só que ambas as coisas são igualmente falsas. Só há um facto verdadeiro - algo te vai acontecer; os acontecimentos são imperecíveis.

Todas as religiões têm a sua origem em ciências desacreditadas! Mas a patologia do poeta diz que é louco o astrónomo não devoto.

A tragédia está intimamente associada à liberdade; só as pessoas que a experimentaram a descreveram como arte. Quando se trata de emoção, os colectivistas preferem substituí-la por desastres e calamidades, que invariável e inexoravelmente «acontecem» às massas, multidões e outras reuniões de pessoas. Por outro lado, as tragédias também são invariávelmente causadas por indivíduos e, como tal, sentidas por outros indivíduos.

A liberdade é um assunto extremamente interessante; se a bizarra sistematologia das ideias básicas for levada a um ponto de ruptura, deve incluir-se em tal conceito que na liberdade não há liberdade.

O desejo surge da face, e não do corpo ou de alguma das suas partes. O amor é uma coisa cujo grau de intensidade é directamente proporcional ao grau de desconhecimento dos parceiros. Quando se extraem todos os elementos irracionais ao amor, tudo o que fica é uma coisa inconsistente, irrazoável. É extremamente irracional pensar em levá-lo por diante.

A verdade, tal como a entendemos, aparece nas histórias míticas, ao passo que os factos caem na esfera da opinião comum. E quanto mais os factos são enumerados, mais opiniado e erróneo se torna o assunto. Ao nível dos factos puros, não há nada a não ser o caos. Ah, claro que os factos são reais e que os devemos respeitar, mas também devemos acautelar-nos muito com eles, pois é o sentimento de flutuação que dá beleza ao bailarino.

Os caracteres de uma história ou conto, a 4 dimensões, são equivalentes, em 2 dimensões, às ondas do mar, ondulações do lago, balouçantes campos verdes, montes de neve, por cujo movimento e forma conseguimos descirnir a forma do vento. É difícil compreender essa forma nas nossas mentes, mas ainda mais difícil perceber as formas dos ventos nas nossas próprias vidas, mostradas nos vários contos.

Quando escrevo no meu Diário, sinto-me sempre extremamente confiante de que resolverei todos os problemas, não só com facilidade mas também com um estilo amadurecido por uma perspicácia considerável... Podemos notar este mesmo estado em homens que foram privados de oxigénio. Basta isto para nos fazer pensar.

Fins? Quais fins? Só conheço os princípios!

(Os Jogadores de Zan e Os Gerreiros da Madrugada de M.A Foster)

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