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.:terça-feira, maio 25, 2004:.

Oi

Muita pena tenho de informar que o Blog As Brumas de Avalon desapareceu do Blogger. Diz que foi cancelado devido a uso impróprio do Blogger embora não diga qual. De qualquer forma se alguém aí souber se voltou com outro nome dê-me uma apitadela.

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Ainda dentro do livro Terra, há um dialogo que muito me ensinou sobre homeostasia e do qual não mais me esqueci. É um pouco longo mas explica de uma forma fácil, acessível, o que é a cooperação e a competição . Aqui vai pra quem tiver curiosidade (e paciência de ler tudo):

-A teoria de Gaia diz que a Terra continua a ser propícia à vida porque esta se encarrega de modificar o planeta. Se assim não fosse, há muito que este teria entrado numa idade do gelo permanente, tal como aconteceu com Marte. Ou, como alternativa e à semelhança de Vénus, já teria perdido toda a água, transformando-se num deserto.

-É mais provável que Vénus tivesse sido o modelo. A Terra encontra-se demasiado perto do Sol para ser um mundo com água. Estamos mesmo no limite da zona habitével. Sendo assim, como é que evitamos a ratoeira venusiana?

-As algas e as bactérias primitivas ajudaram a química oceânica a retirar dióxido de carbono da atmosfera, o qual se incorpora nos seus esqueletos, que, por seu turno, se sedimentam no fundo do mar. Foi por isso que a atmosfera se tornou mais clara...

-Mais transparente em relação aos raios solares.

-Isso fez com que o calor pudesse escapar, permitindo aos oceanos conservar a água que possuíam, mesmo quando o Sol se tornou mais quente. De facto, a temperatura do ar há já quatro biliões de anos que se mantém sensivelmente a mesma. Passa-se o mesmo com a vaga de calor que apoquenta os nossos contemporâneos. Claro que nos traz problemas terríveis, e talvez uma grande mortandade esteja para breve... na qual estejamos incluídos. Mas nada disto se pode consederar estranho. Dentro de um milhão de anos o equilíbrio voltará a ser encontrado.

-A vida não parou de alterar a atmosfera terrestre para com isso manter o meio que mais lhe convinha. Será que isto foi feito de propósito?

-É isso que nos diz a teoria de Gaia conhecida como . Esta dá-nos a entender que a homeostasia... o processo através do qual a vida se equilibra... obedece a um plano preestabelecido.
A hipótese intermédia, defende que a Terra se comporta como um organismo vivo, apresentando todas as características das restantes criaturas; contudo, nada nos diz que as coisas obedecem a um plano e, se este organismo tem consciência, então ela é representada por nós.
O ponto de vista científico, também chamado de teoria fraca, diz que os processos naturais apenas agem em conjunto de uma forma previsível quando se trata de coisas como oceanos e vulcões... fugas de cálcio das placas continentais e outras ocorrências parecidas... de forma a fazer com que o dióxido de carbono se acumule na atmosfera quando está frio, mas, assim que o planeta volta a arrefecer, o gás se dissipe e deixe escapar o calor.

-Nesse caso estamos a falar de um processo.

-Sim, mas de algo bastante estável, e não apenas no que se refere à temperatura. É por isso que há muitas pessoas a considerá-lo um plano.

-Qual então o motivo que nos leva a pensar que existe um parentesco próximo entre e ? Pensa um pouco no Pré-Câmbrio, há dois ou três biliões de anos, quando as algas existentes no oceano se entretinham a retirar dióxido de carbono do ar. Diz-me, que emitiam elas em troca?

-Oxigénio.

-Pensa nos efeitos biológicos. Lembra-te que o oxigénio queima. Era...

-Um veneno. As velhas bactérias eram anaeróbicas.

-Sim, apesar de serem elas a fabricá-lo, não conseguiam lidar com esse gás corrosivo! Estamos em presença de um caso clássico sobre o modo como se aprende a viver com os próprios desperdícios.

-Então... isso quer dizer que se verificou uma qualquer pressão com vista a uma posterior adaptação.

-Exacto. Gaia viu-se ameaçada. A poluição provocada pelo oxigénio ameaçava destruir tudo e todos. Foi então que algumas espécies encontraram a solução bioquímica mais correcta, ou seja, o modo de tirar partido desta nova forma de energia. Hoje em dia, quase tudo o que existe descende dessas criaturas com maior capacidade de adaptação. Os poucos seres anaeróbicos ainda existentes encontram-se exilados nas cubas das cervejarias ou no fundo do mar.

-Mas... parece que estamos a falar de duas coisas ao mesmo tempo! Dado que as espécies encarregues de realizar a mudança tinham de trabalhar juntas, tratava-se de cooperação. Caçador e presa, ambos tinham que trabalhar em conjunto. Mas, e porque cada um deles estava apenas a pensar em si mesmo, tratava-se igualmente de competição.

-Já vi que entendes o paradoxo essencial. Todos nós, nem que fosse por uma única vez, já nos debruçámos sobre este fenómeno tão estranho... o facto de a morte nos parecer um mal tão grande. A nossa natureza básica opõe-se a isso. E, no entanto, sem ela não existiriam mudanças, nem mesmo a própria vida.

Darwin demonstrou a eficácia crua do processo quando revelou que qualquer espécie existente na Terra faz os possíveis por deixar mais descendentes do que aqueles que necessita. Por outras palavras, todos tentam encher o mundo com a sua descendência, necessitando de ser controlados por um qualquer factor externo.

O significado desta tendência universal traduz-se pela impossibilidade de o leão alguma vez se deitar ao lado do cordeiro, pois nem mesmo junto a outros leões ele está descansado! Pelo menos não sem a necessidade de manter olho meio aberto, meio fechado.

Talvez seja necessário outro exemplo. Sabes alguma coisa a respeito do sistema nesvoso?... células nervosas, biliões de células unidas de forma tão intensa que nem mesmo os cientistas ligados à cibernética con seguiram duplicar um sistema tão complexo. Cada sinapse... ou seja, aquelas pequenas ligações eléctricas não lineares... contribui para a iluminação de um todo que é muito, mas muito maior que a soma das partes que o constituem. Claro que me estou a referir à onda que compõe a sinfonia ao pensamento.
... .O espaço ocupado pelas células nervosas acaba por ser bastante pequeno. O resto é composto por água, linfa, e por um número bastante elevado de outras células que apenas servem para alimentar os nervos, impedindo-os de morrer.
Vamos agora dar uma vista de olhos ao cérebro de um feto. ... Em vez de nervos, temos milhões de protocélulas primitivas, as quais são bastante semelhantes entre si, não parando de se dividir. Sendo assim, como é que algumas destas células sabem que se deverão transformar em nervos, ao passo que as outras se verão confinadas ao papel de humildes servidores? Será que obedecem a um plano?

-Bom, é claro que existe um plano. Encontra-se no DNA... Mas como é que as coisas funcionam? Será que há alguém dentro do cérebro do bébé cuja função seja ler as instruções referentes à utilização do DNA e que diz: Tu aí! Vais ser uma célula nervosa! E tu um dos seus servidores! Ou... Ah! As protocélulas... competem umas com as outras?

-Sim, claro, pois só assim se podem transformar em células nervosas. É na orla do crânio que os factores do crescimento nervoso se insinuam na massa de protocélulas. Cada ponto ao longo da orla segrega um determinado composto químico. O código existente em cada uma das células diz-lhe o que deverá fazer se encontrar este ou aquele factor de crescimento. Se a célula em questão conseguir combinar os elementos certos, transformar-se-á numa célula nervosa. Se o não fizer não passará da condição de servidora.
Para mais, as células segregam os seus proprios químicos, cujo objectivo é eliminar os vizinhos, tal como acontece com a guerra química ocorrida nas plantas...

-Dá a impressão de que... os diferentes grupos de células nervosas correspondem a habitats, não é? Como se fossem... nichos ecológicos?

-E ambos sabemos o que acontece quando um destes nichos se encontra em perigo ou chega mesmo a perecer. Por muito isolado que esteja acaba sempre por afectar o todo. Como é que as células se adaptam às diferentes exigências dos meios em que se inserem?

-Calculo que façam o melhor que possam. Chama-se a isso a lei do mais forte.

-Tens toda a razão. Só que, neste caso, o por que competem não pode ser chamado . Trata-se antes de uma mistura de substâncias necessárias a um futuro desenvolvimento. Se uma célula não se de forma conveniente, acaba por . Por outras palavras, continuará viva enquanto célula de apoio, mas não pode aspirar a constituir um neurónio.

-Isso quer dizer que a forma como os nervos estão dispostos se fica a dever a essas glândulas dispersas, todas elas produzindo compostos químicos diferentes?

-Estão mais do que dispersas. Estão bem posicionadas. Claro que depois do nascimento, a aprendizagem torna-se o factor mais importante.

-Então dentro de nós também se verificam os processos de evolução e competição.

-Sim e é legítimo compararmos o que se passa dentro de nós com o que acontece no planeta.


Adasharta

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Oi


Há um livro que eu positivamente venero; chama-se Terra e o autor é David Brin. Nunca me canso de reler este livro; cada vez que a humanidade parece ir de mal a pior, sempre me dá uma nova prespectiva, uma nova esperança.

O livro em si trata de tantos temas ao mesmo tempo, que é dificil imaginar como é que foi possível transformá-lo ainda numa história. Fala-se de história, ecologia, religião e cultos, o futuro espacial do planeta, a homeostasia do planeta, os sentimentos e esperanças das populações, a reciclagem, o efeito de estufa, buracos negros, e muito mais. Existe na colecção de livros de bolso Fc em 2 volumes e aconselho vivamente.

Aqui vão alguns extratos do livro, com os quais aprendi coisas sobre as quais nunca me tinha sequer debruçado:

Há muito tempo, antes mesmo de os animais terem aparecido em terra seca, as plantas desenvolveram um composto químico, a lignina, que lhes permitiu deixar crescer hastes compridas, podendo com elas suplantar em tamanho os seus mais directos competidores. Tratou-se de um daqueles factos que alteram as coisas para sempre.
Mas o que será que acontece quando uma árvore morre? Os seus componentes, proteínas, celulose e hidratos de carbono, podem ser reciclados, mas apenas se a lignina tiver sido tratada. Só então a floresta poderá reclamar a vitória sobre a morte.
Uma das soluções para este problema foi descoberto pelas formigas. Cem triliões de formigas, segregando ácido fórmico, ajudam a impedir uma catástrofe, pois, se assim não acontecesse, o mundo acabaria por sofucar, coberto por enormes quantidades de madeira incapaz de apodrecer. Claro que elas fazem isto unicamente para seu próprio bem, sem pensar nos benefícios que o facto traz ao Todo. E, contudo, o Todo é limpo, arrumado, renovado.
Será que este processo, a forma de as formigas terem arranjado maneira de salvar o mundo, foi encontrada por acaso?
Claro que sim, o mesmo se passando com todos os outros milagres acidentais que, no conjunto, constituem a maravilha a que chamamos mundo. Deixem-me que vos diga que alguns destes acidentes são mais fortes e sensatos que muitas acções planeadas. E se o facto de dizer isto me torna uma herética, então que assim o seja.


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Uma cordilheira de pequenas montanhas divide a cidade de Los Angeles. Durante os seus primeiros anos, enormes frotas de camiões precipitavam-se para os pequenos vales existentes entre essas encostas, carregados de toneladas de detritos urbanos.

Embalagens de café e grades de melão, caixas de cereais e expositores...

Nesses tempos de abundância, todos os bens pareciam ter de vir embrulhados em qualquer coisa. Por um ano, uma família normal paracia ter capacidade de produzir lixo suficiente para encher a casa onde vivia e também a garagem.

Jornais, revistas e folhetos publicitários...

Antes disso, durante a guerra contra a Alemanha e o Japão, Los Angeles dera a sua contribuição para o esforço de guerra através da reciclagem de diversos objectos. Assim, os cidadãos separavam os objectos de metal para os voltarem a empregar. O cartão era de novo enviado para as fábricas de pasta de papel. Até mesmo a gordura dos cozinhados era aproveitada. Os poucos que não sentiam qualquer prazer em ajudar eram obrigados a fazê-lo, caso contrário seriam multados.

Embalagens de leite e toalhas de papel... e produtos nunca usados, apenas com alguns defeitos pequenos e que as fábricas punham de parte...

Depois da guerra, as pessoas viram-se de súbito libertas de décadas de privação, despertando para uma era de abundância. Com o fim da crise, a reciclagem parecia ser algo obsoleto. Um qualquer candidato a governador chegou mesmo a prometer renovar aquela lei maçadora. Escusado será dizer que ganhou.

Sacos de amendoins, embalagens de comida rápida, caixas de pizzas prontas a ser consumidas...

As montanhas que dividem Los Angeles formaram-se ao mesmo tempo que a Placa do Pacífico e a Placa Norte-Americana. À medida que as duas enormes formações rochosas iam batendo uma de encontro à outra, uma cordilheira emergiu à superfície, tal como acontece com a pasta de dentes quando apertamos o tubo. As encostas de Santa Mónica e Hollywood eram apenas pequenas amostras do que o processo podia originar, mas acabaram por moldar a cidade que as acabou por rodear.

Caixas de produtos congelados, caixas de computadores e aparelhos de alta fidelidade, caixas de cartão vindas dos supermercados, caixas, caixas, caixas...

Houve um tempo em que entre as encostas existiam pequenos vales cobertos de carvalho e de feno, onde os veados pastavam e as aves de rapina planavam, constituindo o cenário ideal. Agora, os camiões não paravam de ir e vir, todos os dias. Ninguém reparou no facto até ao momento em que estes depósitos se viram completamente a abarrotar, o que aconteceu apenas no espaço de uma geração. Quando o século chegou ao fim, o que antes fora a extensão de terreno que separava dois cumes era agora uma planície ininterrupta, iluminada à noite por luzes que utilizavam gás de metano como combustível - sendo este formado no subsolo pelas enormes quantidades de lixo em decomposição.

Latas de cerveja e de refrigerantes, garrafas de molho de tomate... motores a gasolina, azulejos e mobílias velhas...

Seguiram-se então tempos difíceis. As novas gerações mostravam-se possuidoras de uma nova sensibilidade e de atitudes menos desleixadas. Voltaram a decretar-se multas e foram tomadas medidas para estancar o fluxo de desperdícios... primeiro para metade, depois para um décimo, depois para menos ainda.
Mas nada disto resolvia o problema levantado pela existência daqueles enormes planaltos entre as colinas. Planaltos de lixo?

Garrafas e sacos de plástico, colheres e garfos de plástico...

Alguns sugeriram a construção de edifícios, o que talvez fosse uma boa forma de lutar contra a falta de espaço. Claro que todos teriam de contar com algumas explosões ocasionais, e também com o desaparecimento esporádico de um ou outro prédio, atulhados no meio do lixo.

O animal de estimação envolto num saco de plástico... detritos dos hospitais... cimento e tijolos...

Outros sugeriram que estas lixeiras deveriam ser deixadas tal como estavam para que os futuros arqueólogos pudessem encontrar facilmente toda uma enorme riqueza de pormenores sobre a forma como a vida decorria na Califórnia do século XX. Tentando chegar ainda mais longe, os paleontólogos perderam-se em especulações a respeito de qual seria o aspecto daqueles depósitos dentro de alguns milhões de anos, depois de as placas continentais os terem transformado em finas camadas de rocha sedimentária.

Pneus e automóveis, rádios avariados e computadores obsoletos, dinheiro destinado a pagar a renda da casa e que acabara por desaparecer, anéis de diamantes colocados fora do sítio...

Era fácil de perceber o que acabaria por acontecer, mas foram poucos os que se deram conta do facto. À medida que a situação se agravava, os recursos se tornavam cada vez mais escassos e a destruição de detritos num acto compulsivo, era inevitável que todas aquelas planícies artificiais acabariam por chamar a atenção dos inovadores, ansiosos por arranjar maneira de enriquecer.

Ferro, alumínio, silicone... níquel, cobre, zinco... metano, amoníaco, fosfatos... prata, ouri, platina...

As pretensões foram registadas, os planos apresentados e analisados. Aperfeiçoaram-se novos métodos de aproveitamento. Acabou por se dar início às escavações entre as velhas colinas.
Lançando-se nos detritos de uma geração passada, os seus netos faziam os possíveis por descobrir o tesouro.

Começara a corrida ao lixo.


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Adasharta

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